Documentário em 3D registrou uma das maiores turnês da cantora, que culminou em uma apresentação histórica na cidade de São Paulo
A Netflix acabou de divulgar sua lista de novidades para o mês de abril e uma das que mais chamam atenção é a inclusão do documentário musical em 3D sobre a vida profissional e pessoal da cantora Katy Perry (Katy Perry: Part of Me), que registra desde o começo gospel até seu casamento e divórcio com o ator Russel Brand, poucos minutos antes de subir ao palco. O documentário foi gravado durante um ano na turnê California Dreams, resultado do álbum Teenage Dream.
CríticaPor João Paulo Barreto
Em Part of Me, a canção é interpretada não em sua face unplugged, mas em uma que condiz bem com a imagem que a jovem passa para seu público. Repleto de cores, brilhos, repetidas trocas de figurino (até mesmo em cima do palco), dançarinos, purpurina e, inclusive, com direito a uma pessoa fantasiada de gato, a ambientação dos shows reflete o público em sua maioria. Composto majoritariamente por crianças e adolescentes, os fãs de Katy Perry participam do documentário em depoimentos que, de tão sinceros, chegam a ser constrangedores, como quando um garoto entrevistado afirma, aos 14 anos, que Perry mudou sua vida completamente.
Buscando sempre enfocar a cantora e sua relação carinhosa com os fãs, o documentário funciona como forma de causar ainda mais simpatia destes pela artista. Não por acaso, vê-se o esforço da equipe em agradar os fãs ao convidar diversos deles para subir ao palco. Além disso, Perry parece se esforçar para vincular sua imagem à de uma adolescente. Algo que não deve ser visto como um problema, apenas como uma ferramenta mercadológica. Assim, quando uma criança lhe pergunta sua idade e ela responde que tem 27, não é de todo surpreendente que o garotinho replique afirmando que ela parece ter 16. Ainda mais quando ela mesma afirma que não quer ter bebês agora pois ainda é um bebê. Crianças são sempre sinceras e falam sem pensar, afinal de contas.
A estrutura do documentário é construída de forma a seguir cronologicamente os shows da turnê mundial. Conta, claro, com a clichê cena onde a montagem acelerada da estrutura do palco é mostrada. Sobre a grandiosidade da equipe da cantora, interessante é o depoimento do seu agente, que compara a quantidade de caminhões que a atual turnê possui com o começo da carreira de Perry, quando seus shows costumavam ser mais modestos. É quando passamos a conhecer as origens da garota, com imagens de arquivo pessoal e depoimentos de familiares.
O melhor deles é, de longe, o dos pais de Katy. Religiosos fervorosos, membros da igreja pentecostal americana (onde o pai de Kate é ministro), os dois aparecem desconfortáveis com o teor de algumas letras da filha. A mãe chega a afirmar que não gosta de I Kissed a Girl. Curioso é o momento em que ela fala que não quer a filha aparecendo com poucas roupas em público, algo que o pai corrobora pedindo calma à esposa e falando que a filha não aparecerá assim. Mas nada que a fortuna ganha pela jovem não os faça rever seus conceitos, obviamente.
Ao exibir os familiares de Perry, o filme acaba caindo em um falso e desnecessário drama que, ao funcionar inicialmente por trazer a bem vista face familiar da cantora, acaba por dar um tiro no próprio pé no momento em que é abordado o começo da carreira de Katy. Em uma cena um tanto constrangedora de se assistir, ela afirma que chegou a ligar para o irmão para pedir dinheiro, algo que este explica às câmeras que não pôde ajudar, pois na época não tinha dinheiro nem para si mesmo. Em qual igreja mamãe e papai estavam nessa ocasião?
Pecando por desenvolver demais o lado esposa da cantora ao enfatizar seu esforço em manter o casamento com o comediante Russel Brand (ela costumava interromper a turnê e viajar da Europa para os Estados Unidos apenas para vê-lo), uma vez que nenhum depoimento do ator sobre a versão do término do relacionamento ou até mesmo sobre sua relação com a carreira meteórica da esposa é inserido no longa. Ao final, quando vemos a cantora chorar deprimida no camarim antes do show em São Paulo, não fica difícil uma análise superficial e parcial sobre o seu ex-marido.
Única artista a emplacar cinco hits em primeiro lugar nas paradas (algo que o filme salienta bem ao afirmar nem Os Beatles ou Elvis conseguiram), Katy Perry é, de fato, um fenômeno. E seu filme reflete bem o oportunismo dos produtores em aproveitar o momento da cantora. E ao vender a imagem de nice girl em todo o longa, a produção mostra que, realmente, os tempos mudaram na música pop. Atitudes à la Axl Rose e Kurt Cobain saíram de moda. O que, em tempos tão violentos, não deixa de ser uma boa notícia.
- Publicado 4 dias ago on 08/04/2015
- Por: Cabine Cultural
- Última modificação abril 8, 2015 @ 12:15 am
- Arquivado em: Notícias
- Tagged With: Cinema, Katy Perry, Netflix
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